A escravidão no Brasil
foi amplamente documentada pelos fotógrafos do século XIX. Contribuíram
para isto o fato de ter a fotografia chegado cedo ao país, em 1840, sendo
o imperador Pedro II um grande entusiasta, além de ter sido o último país
das Américas a abolir a escravatura, em 1888. Por cerca de 350 anos, o
Brasil – destino de 4,5 milhões de escravos africanos – foi o maior território
escravagista do Ocidente, mantendo este sistema tanto no campo como na
cidade – o lugar de trabalho era o lugar do escravo.
Muitas vezes o objetivo
das fotografias não era a denúncia e sim o estético ou, ainda, o registro do
exótico. A Galeria do Dia da Abolição da Escravatura exibe fotos de
escravos em situações de trabalho, em momentos de descanso ou mesmo em poses
obtidas em estúdios. São imagens apaziguadoras da escravidão e das
várias funções dos escravizados. Dentre seus autores estão Alberto Henschel,
Augusto Riedel, Augusto Stahl, George Leuzinger, João Goston, Marc Ferrez ,
Revert Henrique Klumb, além de alguns anônimos.
As fotos revelam uma
representação naturalizada da escravidão, deixando a impressão de que seria
normal a posse de homens por outros homens, o que fica evidenciado pela venda
dessas imagens para o exterior como um produto exótico de um país tropical
distante. Porém, percebe-se em não poucas dessas fotografias, segundo a
antropóloga Lilia Schwarcz, que “mais do que propriedades ou figurantes com
papéis prévia e exteriormente demarcados, os escravizados negociam efetivamente
nos registros fotográficos, nos pequenos sinais que deixaram no tempo e na
imagem, seu lugar e condição”.
A Abolição da
Escravatura foi o acontecimento histórico mais importante do Brasil após a
Proclamação da Independência, em 1822. No dia 13 de maio de 1888, após seis
dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea,
que decretava a libertação dos escravos no país. Sobre este dia, Machado de
Assis escreveu anos depois na coluna “A Semana”, no jornal carioca Gazeta
de Notícias: “Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me
lembra ter visto”. Até hoje se manifestam as consequências sociais e culturais
da longevidade e do alcance da escravatura no Brasil.
Acesse o acervo no link abaixo
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