A Comissão de Assuntos
Sociais do Senado Federal analisa um projeto (PLS 08/2014), do senador Blairo
Maggi (PR-MT), que reduz o intervalo de descanso e refeição do trabalhador.
Juízes e procuradores contrários à redução alertaram para o risco à saúde do
trabalhador durante uma audiência pública no último dia (15).
Possibilidade de
reduzir horário de almoço dos trabalhadores divide opiniões
A possibilidade de
flexibilizar o horário de almoço ou de descanso por meio de acordo coletivo,
conforme projeto (PLS
8/2014) em tramitação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), dividiu
opiniões em audiência pública nesta quarta-feira (15). Contrários à alteração,
juízes e procuradores alertaram para os riscos à saúde e à segurança no trabalho
que a redução pode ocasionar. Representantes de confederações de diversos
setores da economia citaram a liberdade de escolha dos funcionários e outros
ganhos, como menos horas no trânsito e mais tempo de convivência com a família
ao evitar a saída no horário de pico, para defender a modernização da lei.
Na opinião da
procuradora do Ministério Público do Trabalho Juliana Carrero, as negociações
coletivas devem ser prestigiadas, sim, mas não em relação a toda e qualquer
pactuação. Segundo afirmou, o intervalo intrajornada de no mínimo uma hora para
quem trabalha mais de seis horas seguidas é uma medida de segurança e saúde no
trabalho, é impositiva e não pode ser afastada pelo trabalhador se ele quiser.
- O trabalhador não tem
noção do que efetivamente pode decorrer de uma redução desse tipo na jornada
dele. Não pode dizer simplesmente “eu quero a redução”, não interessa, da mesma
forma que ele não pode dizer que quer trabalhar 10, 12 horas por dia –
defendeu.
Da mesma forma, o juiz
Luiz Antonio Colussi, representante da Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra), frisou que a garantia de saúde e segurança dos
empregados contra o texto. O intervalo intrajornada é essencial para que os
funcionários reponham energias e mantenham a concentração e o foco no trabalho,
para dificultar a ocorrência de acidentes.
O mesmo motivo foi
apontado por José Carlos Torves, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),
que também é contrário à proposta. Segundo lembrou, a situação dos
jornalistas é ainda pior, por trabalharem até 10, 12 horas por dia, muitas
vezes em situação de risco, sob forte cansaço e estresse, e a jornada de cinco
horas garantida por lei nunca ser cumprida. Ele também alertou para a
existência de um movimento de ataque ao mundo do trabalho e aos trabalhadores,
com retirada de direitos e garantias. Apontou como exemplo disso a MP
680/2015, que permite a redução da jornada e dos salários.
- Óbvio que há
necessidade de superar a crise, mas [as medidas] não podem cair só sobre os
direitos dos trabalhadores – afirmou.
Projeto
A alteração proposta na
regra de intervalo para repouso e alimentação estabelecida pela Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT) tem na CAS relatório pela rejeição,
apresentado pela senadora Angela Portela (PT-RR), e um voto em separado da
senadora Ana Amélia (PP-RS), defendendo sua aprovação.
Vários senadores
defenderam modificações na proposta. Waldemir Moka (PMDB-MS) pediu que a
redação do texto seja mais claro, diferenciando segmentos econômicos em relação
aos quais não se aplicaria a flexibilização.
Paulo Paim (PT-RS)
sugeriu que não se coloque a proposta em votação enquanto centrais sindicais e
outras federações de trabalhadores não forem ouvidas.
- Às vezes uma boa
intenção pode gerar prejuízos para os mais fracos – disse.
Já a senadora Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM) destacou a necessidade de levar em consideração os
argumentos dos juízes e procuradores do Trabalho. Segundo ela, a Justiça do
Trabalho mantém o equilíbrio das relações trabalhistas no país, uma vez que o
lado do poder econômico - representado pelos empregadores - é mais forte.
Valorização
Para o representante da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Kurtz, o projeto valoriza as
negociações coletivas de trabalho, representando assim um avanço para as
relações trabalhistas. Ele também lembrou que as negociações coletivas só se
estabelecem quando há interesse das duas partes, não é unilateral.
- Melhor trabalhar meia
a hora a mais durante a semana [reduzindo o almoço] para ficar no sábado com
sua família – disse.
Alain Mac Gregor,
representante da Confederação Nacional do Comércio (CNC), afirmou que o projeto
traz facilidades para o mundo do trabalho e fortalece os sindicatos. As
negociações, afirmou, seriam feitas sob lastro constitucional e com previsão em
dispositivo constante do parágrafo 3º do artigo 71 CLT. Ele permite que o
intervalo seja reduzido por ato do Ministro do Trabalho, com condicionantes:
que seja ouvido o Serviço de Alimentação de Previdência Social, que o
estabelecimento atenda às exigências sobre organização dos refeitórios e que os
empregados não estejam sob regime de trabalho prorrogado em razão de horas
suplementares. O texto aprovado tornaria o processo menos burocrático, avaliou.
- Não existem mais
fragilidades na representação sindical. O trabalhador representado jamais
sofrerá prejuízos por negociações de sindicatos, que estão ali para protegê-lo
– frisou.
Rodrigo Valente, representante
da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), ressaltou que é por
meio das negociações coletivas, via acordos e convenções coletivas de trabalho,
que as reais necessidades das categorias são atendidas.
O autor da proposta,
senador Blairo Maggi (PR-MT), disse que o projeto busca adequar as relações de
trabalho ao mundo real. Não é nada imposto, faz quem quer e por acordo, mas
exceções devem ser observadas, como o setor da construção civil, trabalho
braçal e pesado que demanda mais descanso.
- As pessoas têm que
ter discernimento de definir sua vida. O Estado não pode tutelar tudo e a todos
a qualquer momento – afirmou.
Na opinião de Ana
Amélia (PP-RS), não se pode comparar coisas diferentes, tratando todos os
setores da atividade econômica da mesma forma. Alguns mais vulneráveis precisam
da proteção do Estado, mas há outros mais modernos em que o cidadão poderia
exercer sua liberdade de escolha. Conforme a senadora, é preciso desmistificar
a visão do trabalhador como alguém sempre explorado pelo empregador. Na mesma
linha, o presidente da CAS, senador Edison Lobão (PMDB-MA) frisou que empresas
e trabalhadores não existem um sem o outro.
- As legislações
precisam ser sempre atualizadas. Algo que foi construído há 40, 50 anos, quando
o trabalho era diferente do que é hoje, não podemos imaginar que hoje é mais
adequado. Mas que os princípios e direitos se mantenham porque são corretos e
justos e devem preservar o trabalhador – opinou ainda Douglas Cintra (PTB-PE).
Agência Senado
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