A Vale teve uma mina
interditada e foi autuada por 32 infrações trabalhistas por submeter motoristas
a condições análogas às de escravo. Segundo o Ministério Público do Trabalho
(MPT), as irregularidades aconteceram em um canteiro da mineradora em Itabirito
(MG) e foram flagradas em inspeção do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
no início de fevereiro.
Em conjunto, os dois
órgãos investigam a empresa por exploração de funcionários terceirizados. A
Vale nega.
Ainda de acordo com o
MPT, 309 motoristas que levavam minério de ferro por uma estrada particular que
liga duas minas da companhia trabalhavam em condições degradantes e sob
ameaças. Eles também teriam sido vítimas de fraude na contratação.
Os trabalhadores eram
funcionários da Ouro Verde, transportadora subcontratada pela Vale, e
cumpririam jornadas exaustivas.
De acordo com o MPT, um
deles dirigiu por 23 horas, com um intervalo de 40 minutos para descanso. Outro
trabalhou de 14 de dezembro a 11 de janeiro, sem nenhum dia de folga.
Além disso, os
banheiros da mina onde eles atuavam estariam em "estado de
calamidade", o que os obrigaria a fazer suas necessidades na estrada.
"Prêmios"
Conforme o órgão, a Ouro Verde incentivava que os motoristas trabalhassem sem descanso ao promover campanhas que ofereciam prêmios por aumento de produtividade, o que é proibido em atividades de risco.
Conforme o órgão, a Ouro Verde incentivava que os motoristas trabalhassem sem descanso ao promover campanhas que ofereciam prêmios por aumento de produtividade, o que é proibido em atividades de risco.
A empresa prometeria o
sorteio de uma moto e uma televisão, além de um acréscimo de 200 a 300 reais no
vale refeição daqueles que dirigissem mais.
Por conta disso, alguns
motoristas confessaram ao MTE que substituíam o almoço por bolachas e dirigiam
na velocidade máxima permitida.
Os prêmios, porém,
nunca teriam sido entregues e os funcionários que contestavam o não recebimento
seriam ameaçados e até demitidos.
Ao todo, 2.777 turnos
com carga horária acima da permitida por lei foram registrados pelo MTE.
Terceirização
A terceirização da atividade pela Vale também foi considerada irregular. "A Vale é a responsável por esses motoristas, não há dúvida disso", afirma a procuradora do Trabalho Adriana Souza, responsável pela investigação contra a empresa no MPT, em nota no site oficial do órgão.
A terceirização da atividade pela Vale também foi considerada irregular. "A Vale é a responsável por esses motoristas, não há dúvida disso", afirma a procuradora do Trabalho Adriana Souza, responsável pela investigação contra a empresa no MPT, em nota no site oficial do órgão.
Em 2013, a Justiça já
havia proibido a companhia de terceirizar a atividade de transporte. Segundo o
MPT, as multas aplicadas chegaram a 7 milhões de reais, mas não foram pagas
porque a Vale recorre da sentença.
Outro lado
Procurada, a Vale disse
em nota que "nega que haja qualquer irregularidade relacionada a condições
de trabalho no canteiro de obras da empresa Ouro Verde, na mina do Pico, em
Minas Gerais".
A empresa alega que, no
fim de janeiro, alguns empregados da Ouro Verde depredaram o canteiro de obras,
tentaram incendiar veículos e ameaçaram gestores.
Dias depois, de acordo
com a mineradora, o local foi inspecionado pelo MTE, que "identificou a
necessidade de adequações relacionadas à legislação de saúde e segurança".
"Todas as medidas
determinadas pela fiscalização foram implantadas. Três dias depois, o
Ministério do Trabalho retornou ao canteiro de obras, constatou que todas as
ações tinham sido executadas e, por isto, liberou novamente a área para
operação", acrescentou a companhia.
A Vale ressalta ainda
que suas instalações "têm condições adequadas de segurança e conforto para
seus trabalhadores, sejam próprios ou terceirizados" e que ela
"repudia toda e qualquer atividade que envolva condições inadequadas de
trabalho e reitera o seu compromisso com o cumprimento das normas e leis
vigentes de saúde e segurança do trabalhador".
A Ouro Verde foi contatada, mas não enviou posicionamento até a publicação desta matéria.
A Ouro Verde foi contatada, mas não enviou posicionamento até a publicação desta matéria.
Exame.com
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